segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

O PRIMEIRO NATAL

Era dia vinte e quatro de Dezembro. Mafalda, uma menina de nove anos, fora com Teresa, empregada doméstica em sua casa, fazer as compras de Natal.
As ruas da baixa lisboeta estavam uma confusão, era um “mar de gente”… Mafalda, que resolvera enfrentar o frio agasalhando-se bem, deixara, inadvertidamente, cair o cachecol que lhe pendia do pescoço. Intuitivamente larga a mão de Teresa para apanhar o cachecol.

… Teresa não sabia o que fazer, foi uma questão de segundos!...

Mafalda chorava; para trás, para a frente, para os lados. Estava sozinha…na multidão!

Ao cabo de uns minutos, um vadio esfarrapado, um verdadeiro andrajoso, um “mete-medo-às-criancinhas”, aproxima-se de Mafalda. Esta não foge!

- O que tens, minha linda?

- Perdi-me de Teresa, a minha empregada.

- As palavras saíam-lhe da boca sem lágrimas por companhia, cada vez mais calmas à medida que ia tomando consciência que, por absurdo que parecesse, aquela situação não lhe era de todo estranha. Sempre estivera só, no meio de gente, mas só!

- Então os teus pais?

- O meu pai deve estar a chegar de Madrid, tem lá negócios. A minha mãe é advogada e também chega sempre tarde. E tu, onde vives?

- Eu?, eu vivo por aqui, nas ruas.

- Não tens casa?!

- Tenho, tenho muitas, em cada rua tenho uma.

- Onde vais passar o Natal, velhinho?

- Sozinho ou com os meus companheiros, numa das “nossas casas”.

- Deixa-me passar o Natal contigo.

- Não, vou levar-te à polícia, eles levam-te a casa.

- Não quero, em casa tenho muitas prendas mas não tenho Natal.

- Pois é, os pais de hoje dão coisas em vez de afectos!...

Mafalda passou a noite a partilhar as “iguarias”, a fogueira e os cartões dos vadios, mas teve Natal… O seu primeiro Natal.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

TESTEMUNHO

TESTEMUNHO






Já caminho adentro mas ainda não muito, ainda fora do sertão, julgamo-nos naturalmente “os maiores” – há excepções, claro! -, não precisamos de grande esforço para alcançar o fim desejado – aquela profissão, aquele estatuto... o conforto.

Bem, o percurso vai-nos dizendo que a coisa não é bem assim... Vou tomando consciência disso com o meu peculiar atraso!

Eu era muito assim:



Refrão



Não te chega seres grande,

precisas de crescer;

hoje, tudo é muito lindo,

mas o que vai acontecer?

Estás no começo do dia,

porém vai anoitecer…

Não, não é palraria,

podes crer!...

Prepara-te a valer!





Como um pavão, circulas,

dos outros, a atenção só queres ter;

não te prestas a ninguém,

p,ra quê? – pensas tu -,se só eu tudo posso ter!...



Eu quero, eu tenho, eu sou!

- ousas tu, sem o dizer…

Mas por tal tu nada fazes,

que tudo de ti vai nascer.



Refrão





Tapetes por onde passas,

mordomias a valer;

não é demais o que tens,

não tens que o merecer!



Não deves esforçar-te muito,

que até podes perecer!

Lá fora tudo é igual,

todos te hão-de valer.



Refrão





C J G

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